O Brasil é o rei do café mundial, liderando como o maior produtor e exportador do planeta, com 35% do mercado global de café em suas mãos. Entre janeiro e novembro de 2024, exportamos cerca de 46 milhões de sacas, movimentando US$ 11,302 bilhões – um recorde anual.
Parece impressionante? Claro que sim! Mas será que vamos manter esse reinado? A realidade é que, por trás desses números, há uma série de desafios prontos para derrubar qualquer otimismo.
Café brasileiro em alta, logística quebrada
E as oportunidades para a exportação de café no Brasil?
Sustentabilidade já não é mais opcional
Tipos de café mais exportados pelo Brasil
Clima e câmbio: dois vilões imparáveis da exportação de café brasileiro
Vietnã, Colômbia e Etiópia: o trio que quer derrubar a exportação de café no Brasil
Expectativas para a exportação de café no Brasil em 2025
Café brasileiro em alta, logística quebrada
Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Itália e Japão continuam sendo nossos melhores fregueses, sedentos pelo café arábica e robusta. Mas e nós? Estamos lutando com uma logística que está se desmanchando.
Nossos portos, como os de Santos (SP) e Paranaguá (PR), parecem estar parados no tempo. Faltam modernização e capacidade para lidar com a demanda. Resultado? Atrasos, custos extras e um frete que virou piada de mau gosto.
Tudo isso fez com que o nosso país acumulasse 1,717 milhão de sacas. Segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o não embarque desse volume nos fez perder R$ 2,754 bilhões como receita cambial.
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O preço do transporte marítimo disparou, com a pandemia e a crise de contêineres, transformando uma das nossas principais commodities agrícolas em um produto caro e menos competitivo.
Você sabia que o custo do frete aumentou em mais de 30% nos últimos anos? E, como se isso não bastasse, a burocracia brasileira para exportar café é de fazer qualquer um perder a paciência.
Pequenos e médios produtores, que poderiam estar surfando na onda das exportações, estão atolados em papelada. Qual a consequência? Margens de lucro cada vez menores e dificuldade para competir com gigantes globais.
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E as oportunidades para a exportação de café no Brasil?
As oportunidades estão lá fora, mas quem vai aproveitá-las? Enquanto ficamos brigando com nossa própria ineficiência, países como China, Coreia do Sul e Indonésia estão aumentando suas importações de café.
Esses mercados emergentes são ouro puro, mas, para aproveitar, precisamos de algo que não temos, competitividade logística. Não adianta ter o melhor café do mundo se ele não chega ao destino final a tempo.
E não é só isso. O mercado de cafés especiais está explodindo. O Brasil tem uma vantagem aqui, com o crescimento da produção de cafés certificados e sustentáveis, como os certificados pelo Fair Trade e Rainforest Alliance.
Sabe o que isso significa? Dinheiro na mesa. Cafés especiais podem custar 30% mais caro no mercado internacional. É uma oportunidade perfeita para os produtores brasileiros, mas será que estamos prontos para capturar esse nicho?
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Sustentabilidade já não é mais opcional
No mercado internacional, ser verde não é uma escolha, é uma obrigação. Europeus e norte-americanos querem café com certificado de boas práticas agrícolas, e programas como o Certifica Minas Café são cruciais para que o Brasil não perca relevância.
Sem sustentabilidade, não tem venda. Ponto final. E não é só sobre ser ambientalmente correto, estamos falando de preços premium. Quem não quiser seguir o ritmo do ESG no agronegócio vai perder o bonde da história.
Tipos de café mais exportados pelo Brasil
O café arábica é o queridinho dos nossos clientes internacionais. Só entre janeiro e novembro de 2024, exportamos 33,973 milhões de sacas – um recorde histórico para o período.
Isso representa 73,2% do total e um crescimento de 23,2% em relação ao mesmo intervalo de 2023. Mas antes de comemorarmos, vamos refletir: estamos realmente preparados para sustentar essa escalada ou corremos o risco de tropeçar na nossa própria logística?
Enquanto isso, o café canéfora (conilon + robusta) dá sinais de que quer roubar a cena. Com um crescimento impressionante de 107,4%, 8,692 milhões de sacas foram exportadas, cravando sua fatia de 18,7% no mercado.
Parece ótimo, não? Mas isso também nos faz pensar: e se os gargalos da infraestrutura, a falta de modernização e o custo do transporte jogarem uma âncora nessa ascensão?
No segmento de café solúvel, foram enviadas 3,690 milhões de sacas, um avanço de 12,1%, garantindo 8% do total. Já o café torrado e moído patinou, com apenas 43.627 sacas exportadas, registrando uma queda de 6,4% e quase desaparecendo do radar das exportações (com 0,1% de representatividade).
Isso não levanta um alerta sobre nossa capacidade de inovar e agregar valor aos produtos?
O problema está no campo, na logística ou nos dois?
Agora, aqui vai a pergunta que ninguém quer encarar: estamos só contabilizando sacas ou também perdendo oportunidades por falta de modernização? Crescer é ótimo, mas sem tecnologia e planejamento, vamos continuar exportando não só café, mas também nossos lucros, que vão embora com cada atraso, cada erro e cada chance desperdiçada.
A lição é clara: quem não investir em tecnologia no campo e na logística, vai assistir ao mercado passar com a xícara na mão… e sem café para servir.
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Clima e câmbio: dois vilões imparáveis da exportação de café brasileiro
Se você acha que o preço do café é imprevisível, espere até ver o impacto das geadas e secas nas regiões produtoras. Em 2021, a produção despencou, os preços internacionais subiram, mas a exportação ficou travada.
E a história se repete. Se tivermos uma safra cheia em 2024, prepare-se para uma queda nos preços e pressão nas margens dos produtores.
No entanto, não é só o clima que atrapalha. O câmbio também tem sua parte. Quando o real desvaloriza frente ao dólar, nossos produtos ficam mais baratos lá fora, o que é uma boa notícia.
Mas, quando os custos internos, como combustível e insumos agrícolas, estão pelas alturas, essa vantagem cambial desaparece. Ou seja, estamos em um jogo de perde-perde.
Vietnã, Colômbia e Etiópia: o trio que quer derrubar o Brasil
Não se engane, o Vietnã está comendo uma fatia cada vez maior do mercado de café robusta. A Colômbia é reverenciada pela qualidade de seu café arábica. E a Etiópia, a terra natal do café, está investindo pesado para conquistar os fãs de café especial.
Se o Brasil quiser manter a coroa, vai precisar sair da zona de conforto e investir em tecnologia agrícola, certificações de qualidade e, principalmente, em inovação logística. Ou seja, temos que começar a correr antes que nos alcancem.
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Não dá para relaxar com a exportação de café brasileiro
O futuro das exportações de café brasileiro está em jogo. Para continuar no topo, não basta contar com o passado de glórias: o Brasil precisa investir pesado em infraestrutura, inovação e sustentabilidade. O mercado está mudando rápido, e quem não se adaptar vai ficar para trás, assistindo outros países dominarem a xícara que antes era nossa.
Agora, fica a pergunta, vamos continuar exportando milhões de sacas ou vamos deixar o café esfriar?
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Expectativas para a exportação de café no Brasil em 2025
O café brasileiro está diante de mais um ano que promete dar trabalho. Segundo o Cecafé, a demanda global pode cair em 2025. Parece contraditório, mas essa queda pode fazer os preços subirem ainda mais. Com estoques apertados e a produção sem grandes saltos, o cenário já acendeu o alerta nos mercados.
Agora, as expectativas para a safra estão altas. Mas vamos ser sinceros: depender do clima é como apostar no escuro. Precisamos de muito mais do que torcer para São Pedro colaborar.
De acordo com o Cepea (USP), os preços do café – que já estão em patamares recordes – devem continuar elevados. Por quê? Simples: produção limitada, estoques baixos e uma demanda mundial que não dá sinais de esfriar.
A última vez que colhemos mais de 60 milhões de sacas foi em 2020/21, segundo a Conab. Desde então, o clima virou nosso maior inimigo, limitando a produtividade rural e pressionando o mercado. E o reflexo do tempo instável de 2024 vai continuar impactando as próximas colheitas.
Não estamos sozinhos nesse barco: o Vietnã também enfrentou dificuldades climáticas no ano passado. Isso significa que, pelo menos a curto prazo, não há sinais de que os estoques globais vão se recuperar – ou que o consumo vá cair drasticamente.
Por outro lado, os preços altos ajudaram os produtores a investirem mais nos cuidados com as lavouras. Tratos culturais bem feitos podem ser um respiro no meio desse caos, garantindo melhor nutrição para as plantas e reduzindo os impactos do clima na produção.
Nas exportações, o Brasil brilhou em 2024, e tudo indica que vai repetir o desempenho em 2025 – especialmente no robusta. A combinação de oferta global baixa, demanda aquecida e o Real desvalorizado deixa nosso café ainda mais competitivo no mercado externo. O resultado? Projeções de que os embarques superem as 40 milhões de sacas na temporada 2024/25.
Agora, fica a provocação: estamos prontos para enfrentar 2025 de maneira estratégica ou vamos, mais uma vez, nos deixar levar pelo improviso? O mercado está se transformando rapidamente, e quem não se adapta, perde o café… e a xícara.